terça-feira, junho 28, 2005

A verdade e o futuro de Portugal

Finalmente há Portugueses com credibilidade e poder de difusão das suas mensagens, que começam a falar o que há muito considero verdades inquestionáveis, somente abafadas pela teia de interesses e incompetências que ligam os poderes políticos e comunicacionais.
Finalmente se começa a falar do grande erro que é para Portugal, manter-se autistamente dependente do “Plano A” – União Europeia, sem ter em atenção todos os períodos históricos já vividos por este País, onde não deixando de depender do Continente a que pertence, sempre encontrou os seus complementos além-mar.
Finalmente se começa a falar nos engodos que as mesmas classes nos têm vindo a tentar convencer como solução para a saída desta crise. Finalmente se comenta a falácia da mais recente solução engendrada – a Inovação, pois ela passa pelo pressuposto que os outros não vão inovar. Quando os políticos Portugueses aprenderam a falar com verdade ao seu Povo?
Quando teremos políticos com coragem para as medidas difíceis que são precisas tomar?
Quando remeteremos os arautos do Liberalismo e da Globalização de volta para as Universidades, a ensinarem as técnicas e os Postulados da Economia, deixando aos verdadeiros políticos governarem os Povos, no pressuposto que economia e suas leis são uma ferramenta e não um fim?
Há alturas em que essas mesmas leis devem ser contrariadas a favor de um maior bem. Há que pensar no Proteccionismo conforme referido ontem por Prof. Medina Carreira nos Prós e Contras da RTP1 (uma das raras sessões deste programa, em que se acrescenta real e efectiva divulgação de informação aos cidadãos).
Pode estar muita coisa errada, mas será que se começa a falar verdade neste País?

quarta-feira, junho 01, 2005

Sobre o Tratado Europeu 1

Peço desculpa a Joaquim de Matos por usar alguns excertos do seu trabalho sobre Antero de Quental, mas creio que são úteis para a reflexão que há a fazer por todos nós:

“Na história das nossas letras, encontramos, entre os pensadores mais conscientes e mais preocupados, a chamada de atenção para a mudança da mentalidade portuguesa, como uma necessidade inadiável. Mas esta chamada de atenção tem passado desapercebida, ou então tem provocado desvios da matriz semântica desse apelo. E estes desvios têm sido provocados por razões étnicas, por razões políticas ou por ignorância. A alteração da mentalidade não põe em causa a especificidade do povo português, ou uma possível paideia portuguesa, defendida por António Quadros, nem implica uma absorção da nossa etnia por qualquer cultura estrangeira. Nem tão pouco pode servir de cobertura à importação ou imposição de qualquer ideologia, pois estas podem acontecer, substituindo o recheio da memória sem mexer com os comportamentos mentais. A mentalidade, que tem sido motivo de apelos angustiantes, tem a ver, precisamente, com os comportamentos mentais: com o estatismo genérico dos portugueses, isto é, com o seu passivismo mental, com a ausência de crítica reflexiva, com a generalizada utilização de conhecimentos modelados por institucionalização ou tradições. Quaisquer que sejam os valores que poderão conceptualizar um povo e que, respeitando-os, o poderão tornar maior e consequentemente menos carente, material e espiritualmente, a atitude dinâmica mental é que é requerida, como imprescindivelmente necessária, ainda que não suficiente. O estímulo para tal atitude, tanto pode partir do nosso espaço geográfico como do estrangeiro, sem que, partindo de um ou de outro lado, signifique que passemos a ser mais ou menos portugueses.
(….)
A mudança de uma mentalidade, estimulada por uma necessidade evidente, passa pela educação, pela cultura, pelo poder político, sem esquecer que a sua possibilidade está dependente da adesão voluntária do indivíduo, sem imposição, sem dogmatismos massificantes. A mudança tem de ser sentida como necessária para ser aceite, isto é, tem de ser desejada.
(…)
Uma mutação, ou mudança, implica ruptura. Antero provoca, de facto, essa ruptura? Essa ruptura é embrionariamente nacional? Essa ruptura admite uma análise conceptual? A ruptura, como é sabido, implica o desabamento de uma estabilidade aceite e cultivada, a perda das referências judicativas, o surto do fragmentário, do diverso, da mobilidade dialéctica, da substituição das certezas pelas probabilidades, da estagnação pelas iniciativas.
(…)
A mentalidade de um povo não se pode medir pelos valores de ponta desse povo. Terá de ser analisada a nível das suas vertentes qualitativamente e quantitativamente significativas, que são: a política, a educação, a economia, a finança e a cultura. E esta análise obriga a uma passagem comparativa por outros estados. Não podemos, orgulhosamente sós, medir a nossa mentalidade. Estamos em Portugal, mas também estamos na Europa, e também estamos no mundo. Isto significa que a curto prazo teremos de ser mais Europa e a médio ou a longo prazo mais mundo. E significa ainda, do nosso ponto de vista, que teremos de ser, nesta escalada, cada vez mais portugueses. Uma coisa é a mudança da mentalidade, repetimos, e outra é a definição e o fortalecimento da nossa identidade. Seremos mais Europa e mais mundo, quanto mais portugueses formos. Mas isto passa pela tal mudança de mentalidade.
(…)
A mutação da mentalidade portuguesa terá de passar forçosamente pelo poder. E esse poder só poderá ser eficaz se decorrer de uma verdadeira democracia, isto é, capaz de criar apetências na população, o sentido de autonomia, que exige o hábito de espírito crítico.
(…)
A Renascença Portuguesa lutou pela identidade do povo português, expurgando-a de todos os seus males atrofiantes e refrescando-a com as directrizes históricas do seu tempo. Isto é, o futuro e o progresso estavam nas suas preocupações sem prescindirem das características tradicionais próximas e remotas que definem a natureza do português, nas suas sensibilidades, nos seus sentimentos e nas suas potencialidades. Em termos simples, tínhamos de exercitar as pernas, musculá-las, mas as pernas teriam de ser as nossas, pois não podemos andar com as pernas dos outros.”

Como a mentalidade não muda, o poder não quer e não permite a autonomia e o espírito critico dos Portugueses, inclusive na validação do tratado, não me parece que seja útil e responsável a aprovação do presente tratado, pois independentemente do seu resultado e não efectuando nós, todos nós, as mudanças que precisamos, não seremos nada ou pouco mais que insignificantes no contexto de uma Europa alargada e competitiva. Não seremos mais do que os pedintes do canto Ocidental da Europa, pois só aparentemente só nos ouvem quando precisam do nosso voto para algo, e ouvem para saber quanto queremos (em subsídios para isto e para aquilo) para darmos o nosso voto. Resumindo, o problema de Portugal não está na sua localização geográfica, no seu clima nem na sua dimensão, está em todos nós. Também por isso, não vale a pena votar Sim. E não tenham receio pois a Europa continuará a existir, com alterações, mas continuará a existir. E quem sabe se não viremos a agradecer à França, pelo seu Não.