quarta-feira, janeiro 20, 2010

Sobre o estado do PPD-PSD

Estas são ideias e contributos. Não são mais do que microgramas, não é mais do que um acto de cidadania.
............

Carta aberta a todos os militantes do PPD-PSD

A urgência de uma boa escolha no presente para não hipotecar o futuro

Caros cidadãos,

No âmbito da minha responsabilidade individual e o momento que vivemos, tomei como possível e por vós desculpável dar-vos a conhecer algumas das minhas ideias sobre o PPD-PSD, os Portugueses e o País.
Começo a minha partilha de ideias com a cópia de um Post do Dr. Pacheco Pereira para enquadramento do tema (estou certo que ele me desculpará o abuso).
Não pretendo mais do que ajudar a acender uma pequena fogueira a roda da qual possamos todos trocar opiniões e debater o futuro do País e do Partido, a nível nacional e a nível local.


SETAS, COR, FUNDAÇÃO E HISTÓRIA

Neste caso, Menezes apenas prosseguiu um caminho de descaracterização iniciado por outros. Começou na JSD, ainda no tempo de Cavaco, e, depois acelerou-se com Durão Barroso continuou com Marques Mendes. Menezes deu apenas mais um passo, ao substituir o laranja pelo azul no fundo. A cor laranja, sabemos por vários relatos, foi escolhida em 1974 porque não havia outra disponível, mas a verdade é que a cor ficou como um traço forte de identidade feito pela história do PSD. Se dissermos os "laranjas", os "laranjinhas", sabe-se que falamos do PSD, se dissermos os "vermelhos" é com o PCP. Os outros "vermelhos", os do PS e os azuis, ficaram sem identidade colorida.

Apagar a cor é um passo significativo à luz dos dias do presente, mas, do ponto de vista simbólico, para o PSD é mais importante o que se passa com as setas do que com a cor. A cor tem a ver com a história, as setas com a fundação, o acto genético que para bem e para mal, é a marca de fundo do PSD. Ora as setas são três e não uma, e a sua transformação numa única significa apagar da memória do partido de onde é que vieram estas setas e por que razão Sá Carneiro e os fundadores as escolheram como símbolo.




Desenho de Cid que estava no sítio do PSD.



A origem das setas é a resistência da Frente de Bronze, de que faziam parte os social-democratas alemães, contra o nazismo, e essa génese foi descrita num texto de Pedro Roseta. Os resistentes alemães usavam as três setas para estragar o efeito da cruz gamada, e isso vinha descrito num livro de culto que era lido pelos que tinham possibilidade de o ler, porque estava proibido pela censura antes do 25 de Abril. Esse livro de Tchakhotine, A Violação das Massas pela Propaganda Política, foi certamente a fonte do símbolo, como se pode ver na reprodução aqui ao lado de uma das gravuras do livro. As três setas eram de um modo geral desenhadas de cima para baixo (quando virei a bandeira do PSD estava mais perto do seu símbolo do que com esta coisa...) e significavam por parte dos fundadores a procura de uma fonte de legitimidade política para o partido, que não tivesse uma raiz marxista (como no PCP e no PS), nem conservadora. Essa procura resultou num híbrido muito especial entre o personalismo cristão, o liberalismo político e a social-democracia. Esse híbrido foi feito pela história do PSD, o "programa não escrito", e cortar qualquer uma das suas componentes genéticas é alterar o carácter do partido. Pode parecer incómodo para muita gente que as três setas sejam as mesmas do cartaz do lado, mas a história é assim, é o que é, e deixa marcas. Sem as marcas, somos outra coisa. Fazê-lo por razões de marketing, imagem e publicidade, indo para a seta única, substituindo as "antiquadas" três setas, como o PS fez com o punho, e pintar o partido do estandardizado azul (na verdade o mesmo azul da CDU e pelas mesmas razões), significa ou ignorância, ou novo riquismo deslumbrado, ou as duas coisas. Não sei se foi esta "mudança de imagem", a da setinha rabiante, , que a Somague pagou ilegalmente ao PSD. Se foi, foi um bonito serviço.
Se querem modernizar as setas, são as três setas que têm que modernizar e não uma. Se querem des-laranjar o partido têm que encontrar melhores razões do que o marketing. Se querem fazer um "novo partido", deixem este aos que ainda são fiéis ao legado de Sá Carneiro.”
Caros cidadãos, creio que neste momento ninguém tem dúvidas do estado de desnorte do partido, da sensação de vazio que já ultrapassa a simples terapêutica que jocosamente (e desprestigiante) tanto se fala - que basta atingir o poder para que a maleita passe. Não acredito e creio que qualquer militante do PPD-PSD está certo do mesmo.
Não creio que o problema seja só a má ou boa qualidade política e técnica dos dirigentes dos últimos anos, ou as suas aspirações individuais, ou a perca de coesão entre as estruturas nacionais e as estruturas locais. Também não creio que “as facções” sejam um problema para o partido, são desejáveis e saudáveis as diferentes visões e posturas políticas, que encontrem enquadramento na matriz híbrida do PPD-PSD. Existe sim um problema de personalidades, mas que é conjuntural e permanente enquanto os militantes assim o desejarem e aceitarem dentro do PPD-PSD.
Mas estes são pequenos grandes problemas internos que temos responsabilidade de resolver.
O problema maior – a doença do PPD-PSD, é o distanciamento da sociedade portuguesa. Creio que só se descobrirá e resolverá o problema, a doença do PPD-PSD – recentrando, refocalizando, redescobrindo. Tendo propostas. Utilizando uma dialéctica moderna.
Qualquer processo de decisão e/ou redescoberta, passa sempre por um período em que nos questionamos, em que procuramos resposta a algumas perguntas nucleares.
Neste momento do País é esta a questão que está em cima da mesa – que futuro social, político e económico querem para o País?
Neste momento da militância, é esta a questão que está em cima da mesa – que ideias, energias, sacrifícios e coragem estão disposto a fazer para bem do Partido para assim ele poder cumprir o seu dever para com o País e os Portugueses?
Neste momento difícil do País e do Partido, é esta a questão que está em cima da mesa – que Partido o “companheiro” quer ter?
A ordem das questões procura salientar o carácter instrumental de um Partido, a bem de um País, uma Nação, uma Pátria e um Povo. Um Partido só cresce na medida que trouxer uma resposta a um Povo.
O aprisionamento do Partido por lógicas narcisistas, egocêntricas e de auto-alimentação levará mais tarde ou mais cedo à sua triste morte, ou à sua definitiva transformação num Partido que não vive para lá do “seu proprietário político” (Nacional, Distrital ou Local), à semelhança do que se passa com o CDS e em certa medida com o Bloco de Esquerda.
Estou convencido que o Partido só se reencontrará quando simultaneamente se virar para dentro e para fora de si.
Para dentro de si, no respeito à sua génese e à sua mensagem – humanista e de verdadeiro e único defensor de uma vivencia plena da liberdade do individuo (educada, responsável e em comunidade), liberdade de pensar, de fazer, de criar e de arriscar;
Para fora de si adaptando-se aos tempos, às novas gerações e à rapidez vivida nos processos sociais – económicos, associativos, informativos e comunicacionais, ecológicos e de formação de uma opinião pública activa (caracterizada pela inconstância). Terá para isso de alterar a sua própria estrutura e abrir o seu funcionamento aos diferentes poderes locais;
O Partido deverá se reestruturar em função de um núcleo ideológico e um programa a defender.
O ser humano é e será sempre um ser onde habitam os contrários e se degladiam as respectivas forças geradoras. Assim é com o ser humano, assim é na família, assim é na sociedade.
Então como respeitar e promover a liberdade individual, acompanhar a rapidez dos processos sociais, disponibilizar um conjunto de regras socialmente estruturantes e promover um desenvolvimento sustentável?

Reintroduzindo a Social-democracia.

Mas dirão muitos: Não existem mais partidos que se apresentam mais Sociais-democratas do que o PSD? Não é este um modelo de resposta do Século passado, logo não moderno, não do Século XXI, não teremos de criar uma coisa nova?
Eu digo que não. Primeiro porque a verdadeira Social-democracia não se representa em símbolos e marketing político. Representa-se na prática e na acção governativa. Representa-se permitindo a modernização das infra-estruturas que sirvam os muitos e não só alguns, representa-se criando um ambiente de confiança entre os agentes do mercado ao mesmo tempo que se cria um efectivo respeito pelo estado como entidade de bem, universal e equidistante. Representa-se retirando o estado como agente condicionador quando não persecutório das decisões contrárias à agenda politica partidária. Representa-se fomentando a criatividade dentro da sociedade civil e incentivando e apoiando os projectos que com ou sem fins lucrativos, revelem uma preocupação e serviço social. Representa-se fomentando um desenvolvimento económico e social condicionado por limitações impostas pela sustentabilidade ecológica. Representa-se aplicando politicas de desenvolvimento social, de desenvolvimento de sectores económicos e de criação de um espaço de autonomia, não limitado ao espaço territorial, mas numa lógica de simbiose entre Portugal e os três espaços de afinidade em que nos integramos – Estados Unidos, CPLP e UE. Representa-se defendendo a comunidade/Portugal e não o interesse particular e/ou externo. Representa-se fomentando produtos nacionais exportáveis e não o continuar de uma lógica económica que nos torna ricos no supérfluo e pobres /dependentes no essencial. Representa-se apoiando a acção governativa na opinião dos mais competentes, isentos e representativos cidadãos de cada sector da sociedade. Representa-se apoiando o desenvolvimento dos mais necessitados mas numa lógica de contrato, responsabilização e quebra do círculo de perpetuação da pobreza – criando dignidade individual e não alimentando uma cultura assistencialista que hipocritamente garante a manutenção da pobreza e das indignidades humanas. Representa-se tornando os códigos legislativos, racionais, claros, consequentes, céleres e elaborados com isenção de propósito, ganho ou estratificação social. Representa-se formando, educando e promovendo uma cultura de responsabilidade cívica, de cidadania, de respeito pelo trabalho, pelo mérito e pela responsabilidade social. Representa-se pondo a economia ao serviço da sociedade e da política e os direitos individuais e colectivos ao serviço dos deveres individuais e colectivos.

Quanto à actualidade da filosofia e do conceito. Só o escamoteamento da estrutura e génese da cultura Ocidental, permitirá sofisticamente fazer esquecer que a mesma se fez e existe pela defesa de um conjunto de valores e filosofias, com especial relevância para as que vêem da Antiga Grécia. Não é a idade das ideias que determina a sua actualidade, é a sua resposta às aspirações do indivíduo e de um Povo, é a selecção natural das ideias, efectuada pelas sociedades e civilizações, que determinam a sua morte, continuidade ou adaptação. E essa selecção é feita sempre pela utilidade das mesmas - no seu serviço à sobrevivência e prosperidade cultural e civilizacional de um povo.
Dadas a natureza de valores da sociedade europeia – respeito pela vida, liberdade do indivíduo, progresso e bem-estar material, assim como a cultura negocial e permanente entre o povo e as suas estruturas representativas – trocando algumas limitações aos direitos por alguma estabilidade social e regulatória, nada me parece oferecer melhor garantia de realizar as múltiplas missões e desafios a que estamos sujeitos, senão a Social-democracia.
Mas falo da Social-democracia híbrida, Portuguesa, do PPD-PSD, como gerada e contextualizada pelos fundadores do Partido. A Social-democracia que resultou de uma génese nacional e não importada como a efectuada em tempos pelos restantes Partidos Portugueses.

Falo, relembro e defendo regressar à matriz Social Democrata que “(…) resultou num híbrido muito especial entre o personalismo cristão, o liberalismo político e a social-democracia.”

Defendo apresentar a Social-Democracia ao Século XXI e apresentar o Século XXI à Social-democracia.

A Social-democracia que respeita e efectua a síntese entre a matriz cultural e social vivida e em que vive o povo português e as suas aspirações. Uma Social-democracia que verdadeiramente lute contra uma realidade caracterizada por um condicionamento da vontade e da liberdade de em responsabilidade ser diferente, ousar construir, ser independente e dono do seu próprio caminho e valor.

Condicionamento imbuído na sociedade pelas intenções e acções manipuladoras, controladoras e limitadoras da liberdade individual, dos partidos da esquerda portuguesa, do PS ao Bloco de Esquerda, da cultura à economia, passando pela estrutura do estado, correndo o risco de atingir o próprio acesso a serviços públicos de qualidade por qualquer cidadão – razão contrária à existência de um estado isento, de uma sociedade livre e de um modelo social europeu que se identifica com a própria matriz civilizacional ocidental.

Este condicionamento ocorre ao mesmo tempo que cada português sonha com a felicidade suprema que sabe só ser possível atingir pela ousadia de tentar, arriscar e construir um caminho e um projecto livre e resultante do esforço individual.

Para que os portugueses se sintam estimulados a serem livres e a lutar pela sua verdadeira liberdade, não pode o PPD-PSD desistir de lutar por constituir e disponibilizar aos portugueses todas as ferramentas liberais necessárias ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento de Portugal.

A Social-Democracia nunca poderá andar dissociada da responsabilidade de fiscalizar a filosofia de mercado. Cabe à Social-Democracia do Século XXI, posicionar-se como filosofia de gestão equidistante de contrários; definir e controlar um limite social e político para a aplicação da filosofia de mercado e as respectivas consequências da globalização, mundialização assim como da necessidade sociológica de perpetuar o estado nação como garante e defesa da identidade de um povo assim como veículo de expressão das suas aspirações e anseios nos diferentes fóruns mundiais.

Promover a iniciativa privada independente do dirigismo estatal e político, ao mesmo tempo que assegura o planeamento e a justa redistribuição das riquezas geradas.

Cabe também ao PPD-PSD garantir a identidade nacional num contexto transatlântico, ibérico, europeu, lusófono e mundial.

Também por isso se justifica a Social-Democracia pragmática e portuguesa, só possível de encontrar e ser representada pelo PPD-PSD. É nesta mestiçagem ideológica que se revela a razão do vínculo afectivo e sociológico que liga o PSD a Portugal e aos Portugueses – daí em tempos ser o Partido mais Português de Portugal, daí se justificar a natureza interclassista do Partido. Desta relação só se justifica o rigor, a competência e o servir na causa pública, por todos os militantes do PSD.

Cabe-vos também defender uma reserva de funções e actividades sociais, directamente ligadas às funções do estado, que não podem ser campo de desenvolvimento e implantação de lógicas liberais e de mercado desregradas.

E este renascimento terá de começar no interior do partido – sua vida interna e seu relacionamento com a Comunidade.

A abertura à sociedade terá de passar da intenção à prática, assim como a liberdade e igualdade entre cada militante.

Pela abertura à sociedade, aumentar-se-ão as responsabilidades e consequências para as diferentes estruturas do Partido, com especial importância na reestruturação das estruturas locais, conjugando a lógica de objectivos e responsabilização à lógica do voluntariado e responsabilidade cívica dos seus responsáveis, para também assim, serem mais inequívocas e meritórias as retribuições e apreços que o partido e o País não deixarão de reconhecer.

Para a efectiva igualdade entre militantes e resgate de credibilidade perante o povo – demonstrando começar em casa os sacrifícios e a concentração de energias e esforços positivos, é necessária reverter as diferenciações entre militantes atribuídas pela pertença às diferentes subestruturas do PPD-PSD. As estruturas são necessárias num objectivo funcional e de melhor acesso e acompanhamento da sociedade. Mas todos os militantes são iguais, tendo como único critério de diferenciação o seu valor e contributo individual para o País e para o Partido.

Dados a considerar – 90% da população portuguesa não lê jornais e está dependente da qualidade da informação disponibilizada nos canais abertos, para fornecimento e formação da opinião política praticada e/ou publicitada. Estes dados, simples, permitem aferir da necessidade urgente de uma actividade exterior, das estruturas locais, planeada localmente e em coordenação com as estruturas distritais e nacionais.

Se adicionarmos o facto de que a natureza do novo eleitorado, o torna avesso à dialéctica habitual e ao formalismo de acesso à informação assim como a hermética prática política existente actualmente na maioria das secções dos Partidos, prontamente aferimos que é nas estruturas locais – pela sua maior proximidade, mais até do que nas Distritais e Nacionais, que se coloca o maior desafio, maiores responsabilidades e melhor teste do valor da militância individual.

Uma nota final para a gestão da mensagem política.

Na gestão da mensagem, cabe-vos aprender com quem tem ganho na guerra comunicacional. Mas na forma pelas mensagens claras, no conteúdo pelas propostas concisas, na acção pela responsabilidade das propostas e pelo revelar e denunciar da ameaça demagógica de esquerda, com uma atenção especial na esquerda em ascensão – Bloco de Esquerda, que pelo seu discurso irracionalmente cativante, se revela perigoso para o futuro de Portugal, pelas consequências da sua acção e influencia.

Termino este pseudo-opuscúlo, com um desafio.

Vive-se tempos difíceis mas não impossíveis de ser superados.

Só precisam de ser diferentes porque os tempos são diferentes e assim o exigem.

Só precisam ter coragem para tentar, e ser, diferentes.

Defender os valores e a memória, ser responsável na acção e construir oportunidades de futuro.

Filosofia e obra de Padre António Vieira e a visão do quinto império

“Nascer pequeno e morrer grande, é ser homem…”

Neste sentido, devem pedir desculpa pelos erros (na acção e nas escolhas), ter orgulho do que são (laranjinhas) e do vosso passado, e tornarem-se grandes na obra feita a bem de Portugal, dos Portugueses e do Partido.

Cada militante, cada secção, tem uma responsabilidade para com Portugal, para com os Portugueses e para com o Partido. Têm obrigação de ajudar a cumprir os 3 P’s.

Os melhores cumprimentos a todos os militantes do PPD-PSD.